Webinar da Academia de Viagens Corporativas reuniu players de todos os lados pra discutir o tema
NDC na prática. O que é o New Distribution Capability, da Iata? Como funciona? Qual o grau de implementação em cada companhia aérea? Como afeta os gestores de viagens, OBTs e as TMCs? Para desmistificar esta linguagem e entender como as transportadoras estão trabalhando com ela, a Academia de Viagens Corporativas realizou um webinar nesta quinta-feira (19) com diferentes players que trouxeram diferentes visões do NDC.
“Há mais de dez anos ouvimos falar de NDC e, agora que chegou de fato, está todo mundo cheio de dúvidas. Por isso, reunimos companhias aéreas, cliente e TMC, que representam o que está acontecendo no mercado. Na hora de implementar, cada empresa teve seu ritmo e não se sabe ao certo toda a complexidade do NDC”, deu início à videoconferência o editor-chefe da PANROTAS, Artur Luiz Andrade, que mediou a conversa.
O que muda na prática?
Para o gestor de Viagens da Grifols, João Gabriel Pereira, há ainda um desconhecimento geral no tema. “Procurei apurar mais informações, consultei outros colegas, mas não vejo um painel em que a gente consiga enxergar isso 360°, não encontrei um panorama macro da Iata e as aéreas foram implementando e avisando depois, com cada player priorizando sua visão. Por isso ainda estou tendo dificuldades para entender, mas sei que não tem volta”, diz.
A diretora para o Brasil do Lufthansa Group, Annette Taeuber, explica que, antes de mais nada, o NDC não é uma ferramenta e, sim, uma nova linguagem que veio para padronizar a indústria da aviação.
“Antigamente, os colaboradores tinham de aprender códigos e números na distribuição de passagens aéreas, e essa linguagem ficou para trás com a chegada da internet. Com ela, a Iata propõe criar uma linguagem que se iguale ao ponto com das companhias aéreas. A implementação está sendo feita em passos diferentes, mas o Lufhtansa Group está trabalhando o NDC desde 2016 e hoje estamos maduros, fornecendo tudo que o GDS oferece e mais, como os ancillaries. Em suma, o NDC padroniza uma linguagem, igualando os canais de distribuição próprios da aérea com os da TMC, por exemplo”, pontua.
Prateleira para as aéreas
Aline Maia, do time de Vendas da Latam Brasil, fez uma analogia que ajuda a esclarecer o papel do NDC e o que o novo padrão significa para as companhias aéreas.
“Desmistificando a complexidade do NDC, ele nada mais é do que a nossa prateleira. Temos um produto e as agências são nossos supermercados. O GDS era uma prateleira padrão, que tinha um custo para usar e não tinha a possibilidade de modificar essa prateleira. Com o NDC, as aéreas passam a decidir o que querem nela”
Aline Maia, da Latam
Outra analogia realizada durante o webinar, por Artur Andrade, foi “TV a cabo”. O NDC é como se fosse uma assinatura de TV a cabo, com o cliente podendo escolher quais pacotes e canais quer ter em sua casa. De 100 funcionalidades já prontas para serem usadas, cada companhia escolheu quantas quer usar. "Ou seja, tem gente já com o canal Premiere e empresa ainda só com a TV Senado", exemplificou Andrade. O diretor de vendas da American Airlines, Alexandre Cavalcanti, concorda.
“Essas analogias são boas para falar de NDC. É como se pegássemos um celular antigo, que só fazia ligação, e hoje temos diversos apps e a última coisa que fazemos quase é ligar. Na verdade, trata-se de uma troca de padrão tecnológico para modernizar a entrega da empresa aérea. A ideia é modernizar e criar um perfil, histórico de compra completamente diferenciado que o Edifact não permite”, explica Cavalcanti. A American Airlines, segundo ele, escolheu começar com 100% das funcionalidades e já trabalhando com os GDSs.
Como fica para as TMCs?
Unindo todas as pontas está a TMC, que ouve todos os lados e faz a ligação dos players na indústria. É por meio dela – ou melhor, das ferramentas e assistência dela – que o gestor de viagens ou viajante seleciona o que mais faz sentido para sua viagem, disponível no novo padrão da Iata.
“O NDC é uma linguagem nova e seu principal motivador é fazer com que o passageiro da pessoa jurídica tenha a mesma experiência que o passageiro da pessoa física. O custo de desenvolvimento é absurdo e ainda existem milhões de players. Estamos aqui como TMC, mas têm as ferramentas de OBT e elas que precisam desenvolver isso, e os GDS com as aéreas, para que a gente consiga acessar. Como TMC, ficamos de mãos atadas. Estamos avançando em alguns, mas às vezes as próprias aéreas mandam uma nova documentação, outra escrita, linguagem diferente, e daí precisamos voltar três casas”, afirma o CEO da Kontik, Fernando Vasconcellos.
Tarifas e precificação
Um ponto bastante discutido no webinar e que gera muitas dúvidas na indústria é a questão das tarifas – que no NDC costumam ser mais baixas que nos canais chamados tradicionais – e a estratégia de precificação de cada companhia aérea.
“Para desenvolver o NDC, temos de colocar no contrato uma ‘quebra de full content’. Uma cláusula que diz que a empresa não precisará ter o mesmo conteúdo que teria em um canal próprio. Quando é colocada essa cláusula, a distribuição acaba ficando mais cara. No GDS, a diferenciação de conteúdo de cada trecho da Latam custa US$ 12 a mais. Não é que no site está mais barato, é em qualquer canal plugado ao direto”, diz Aline. E quem compra via NDC, segundo as empresas, está comprando com a mesma competitividade e preços do canal direto da aérea. No caso da Latam, o fato de o e-Latam já ser muito usado pelo mercado, tem ajudado na transição, pois as tarifas NDC são iguais às do portal que o trade utiliza. A taxa cobrada a mais fica para a compra via GDS.
Cavalcanti explica também a estratégia da American Airlines – que decidiu, por exemplo, restringir alguns conteúdos (particularmente as tarifas mais baixas da companhia aérea) apenas para conexões de New Distribution Capability. Mas não somente as mais baixas. A tarifa Main+ da AA, usa bundle de benefícios para atrair o cliente e está em destaque no NDC.
“No nosso caso a intenção é diferenciar o conteúdo também para a modernização e personalização da viagem do cliente. Tem a tarifa Main+, que conta com assento premium e embarque prioritário, que no GDS (no padrão Edifact) não está disponível. Então temos essa diferenciação para modernizar e customizar. As tarifas mais baixas estão incluídas no nosso canal direto, mas todos os conectados via NDC terão acesso a elas. Essa diferença de preço é intencional, faz parte da nossa estratégia, mas o intuito principal é personalizar”, conta.
O Lufthansa Group aplica a taxa do custo de distribuição, caso a passagem seja emitida via GDS. Além disso, possui tarifas específicas já carregadas no NDC. “Quando falamos do modelo NDC no GDS, existirá ainda uma cobrança pela distribuição via GDS. Hoje a nossa está entre US$ 18 e US$ 23, mas provavelmente baixará para US$ 8. Sempre haverá uma diferença no custo para distribuir”, afirma Annette.
Dica para as empresas
Fernando Vasconcellos aproveitou o assunto para dar uma dica valiosa para as empresas e travel managers que enviam seus funcionários em viagens corporativas e estão tendo dificuldade em compreender a complexidade do NDC.
“Primeiro, olhe para a sua companhia, veja quais são as principais rotas voadas e o que existe de NDC nas aéreas que vocês voam para essas rotas. Daí, então, converse com a sua TMC. O gestor vê com a Lufthansa, por exemplo, mas tem apenas três bilhetes para a Alemanha no ano. Nem se preocupe com isso. Veja o seu programa, quais aéreas você utiliza, quais rotas você voa e aí tenha uma conversa construtiva com a sua agência de viagens corporativas”
Fernando Vasconcellos, da Kontik
“Neste momento estou priorizando o maior volume, principalmente doméstico, e conversando com a TMC para uma possibilidade de integração. Entendendo como vai funcionar, porque ainda não tenho essa resposta. Mas eu acredito, no dia a dia, que vamos utilizar o NDC no maior volume de viagens. É muito válida essa questão da experiência do viajante, é importante a personalização, acho que as OBTs vão ter este perfil e teremos isso mais para frente nas ferramentas. Acredito que este seja o futuro” finaliza o gestor de viagens da Grifols.
A gravação deste webinar está disponível para os membros da comunidade BT For All, da Academia de Viagens Corporativas. Para acessar ou fazer parte, clique aqui.
E abaixo algumas dicas para entender o NDC:
NOME: New Distribution Capability
Um novo padrão da Iata para as companhias aéreas.
Objetivos:
- tornar a venda indireta mais competitiva
- amigável
- moderna
- personalizada
- barata – diminuir custos de distribuição
Desafios:
- Estratégias diferentes de cada empresa aéreas
- Velocidade de implementação das aéreas e de integração por parte de OBTs e TMCS
- Início por regiões - muitas ainda não começaram no Brasil
- Escolha das funcionalidades: 100 funcionalidades possíveis
- Não foi um trabalho a quatro ou mais mãos (como em outras vezes): players estão sendo avisados na prática, em um cenário complexo para todos
- Custo de integrações e implementações
- Diversidade de players trabalhando em tempos e prioridades diferentes
- Desconhecimento do todo... não há um painel que todos enxerguem 360... Iata não divulga um panorama macro e cada player prioriza a sua visão e estratégias.
A corrida já começou, não adianta ir atrás de culpados e sim de soluções, de construir um NDC ideal juntos. A previsão é no mínimo dois anos para todos os players estarem ao menos na mesma página. Até lá: converse com suas TMC, com seu OBT, com sua companhia aérea parceira. E situe o viajante nesse universo dinâmico e instável. Comunicação nesse caso faz a diferença.
Fonte: https://www.panrotas.com.br/viagens-corporativas/aviacao/2023/10/ndc-na-pratica-como-fica-para-empresas-aereas-gestores-de-viagens-e-tmcs_200603.html